João Soares Somesso Trovador medieval
Nacionalidade: Galega?
Notas biográficas:
Trovador ativo na primeira metade do século XIII, ou seja, na fase inicial da poesia galego-portuguesa, cuja identificação tradicional, proposta por D. Carolina Michaëllis1, tem vindo a ser revista nos últimos anos. Na verdade, D. Carolina, partindo do facto de que o apelido Somesso é desconhecido dos Nobiliários, mas baseada na caraterização como "bom trovador" feita pelo Livro do Deão a João Soares de Valadares, identificou-o com este último (sendo Somesso, na sua opinião, apenas uma alcunha, o "submisso"), identificação posteriormente aceite pela generalidade dos investigadores. Filho do segundo casamento de Soeiro Aires de Valadares, cavaleiro da corte de D. Afonso Henriques, com uma dama galega (uma infanta, segundo o Livro do Deão - LD 13F2 - informação vaga e certamente incorreta), João Soares Valadares terá nascido ainda na segunda metade do século XII, na terra de Valadares, junto ao rio Minho, estando o seu pai e o seu meio-irmão documentados na corte portuguesa de 1169 a 1204. Já mais recentemente Xavier Ron Fernández2, seguindo ainda esta identificação de D. Carolina, localizou um outro conjunto de documentos referentes ao trovador (e onde surge por vezes identificado com o apelido Somesso), e que lhe permitiram acrescentar novos dados à sua biografia. Assim, segundo este investigador, o apelido faria referência a um topónimo galego, Submeso/Someso, localidade situada em Rabal, no concelho de Celanova, na fronteira minhota muito próxima da terra de Valadares, mas também da galega Crecente, cujo senhorio o próprio João Soares terá detido (1223). De resto, os mesmos documentos parecem mostrar também que, na década de 1220, João Soares Somesso teria sido vassalo de D. Martim Sanches, o bastardo de D. Sancho I e de Maria Airas de Fornelos, e que foi, para além de tenente da Terra de Lima desde 1219, um dos mais poderosos senhores da Galiza até 1229 (ano da sua morte), até por ter casado na poderosa linhagem dos Castro (D. Pedro de Barcelos, no seu Nobiliário, enaltece a sua figura, chamando a Martim Sanches "o dos quatro condados", e dando-o como o único e verdadeiro senhor da Galiza nos inícios do século XIII). Seja como for, a partir dos citados documentos, Ron Fernández especifica que a atividade trovadoresca de João Soares Somesso deveria ter-se iniciado por volta de 1215/1220 e ter terminado por volta de 1246, data do último destes documentos que o menciona. Ainda mais recentemente, no entanto (2012), a identificação tradicional do trovador com João Soares de Valadares parece ter-se tornado menos segura, e isto em virtude de uma outra proposta de José António Souto Cabo, a de que se trataria de uma personagem diferente, o galego João Soares de Fornelos3, documentado entre 1223 e 1257. Assente no que parecem ser sérias discrepâncias cronológicas nos Nobiliários no que toca aos Valadares, e ainda na existência de vários homónimos na região da fronteira do Minho (como é o caso de João Soares de Chapela, que acaba por considerar meio irmão do cavaleiro de Fornelos), a proposta de identificação de Souto Cabo parece ir ao encontro da já referida proximidade entre o trovador e D. Martim Sanches (que seria assim seu primo direito, já que filho da sua tia D. Maria Airas). Embora esta nova proposta de identificação assente num trabalho cuidado sobre as fontes, a complexa rede familiar de todos os homónimos acima referidos (a que poderíamos ainda juntar ainda outros de cronologia aproximada) faz com que debate esteja longe de estar concluído. Assim, já em 2014, Henrique Monteagudo4, analisando todos os dados de Souto Cabo e também um novo conjunto de documentos, propôs que, dos dois irmãos, seria João Soares de Chapela (e não de Fornelos) o trovador de Somesso.
Referências 1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904), pp. 297-307.
2 Ron Fernández, Xavier (2005), “Carolina Michaelis e os trobadores representados no Cancioneiro da Ajuda”, in Carolina Michaelis e o Cancioneira da Ajuda hoxe, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia. Aceder à página Web
3 Souto Cabo, José António (2012), Os cavaleiros que fizeram as cantigas. Aproximação às origens socioculturais da lírica galego-portuguesa, Niterói, Editora UFF, pp. 140-163. Aceder à página Web
4 Monteagudo, Henrique (2014), A nobreza miñota e a lírica trobadoresca na Galicia da primeira metade do século XIII, A Coruña, Toxosoutos.
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Cantigas (por ordem alfabética):
Agora m'hei eu a partir Cantiga de Amor
Ai eu coitad'! em que coita mortal Cantiga de Amor
Ben'o faria, se nembrar Cantiga de Amor
Com vossa coita, mia senhor Cantiga de Amor
Com vosso medo, mia senhor Cantiga de Amor
De quant'eu sempre desejei Cantiga de Amor
Desejand'eu vós, mia senhor Cantiga de Amor
Já foi sazom que eu cuidei Cantiga de Amor
Já m'eu, senhor, houve sazom Cantiga de Amor
Muitas vezes em meu cuidar Cantiga de Amor
Muito per dev'agradecer Cantiga de Amor
Muitos dizem que perderám Cantiga de Amor
Nom me poss'eu, senhor, salvar Cantiga de Amor
Nom tenh'eu que coitados som Cantiga de Amor
Ogan', em Muïmenta Escárnio e Maldizer
Ora nom poss'eu já creer Cantiga de Amor
Per com'Amor leixa viver Cantiga de Amor
Punhei eu muit'em me guardar Cantiga de Amor
Quand'eu estou sem mia senhor Cantiga de Amor
Quem bõa dona gram bem quer Cantiga de Amor
Quero-vos eu ora rogar Cantiga de Amor
Se Deus me leixe bem haver Cantiga de Amor
Se eu a mia senhor ousasse Cantiga de Amor
Senhor fremosa, fui buscar Cantiga de Amor
Ũa donzela quis eu mui gram bem Escárnio e Maldizer
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