João Soares Coelho
Trovador medieval


Nacionalidade: Portuguesa

Notas biográficas:

Trovador português, ainda descendente, por via bastarda, de Egas Moniz e dos senhores de Ribadouro, João Soares Coelho terá nascido nos anos iniciais da segunda década do século XIII, tendo sido criado, provavelmente, em Cinfães. A primeira notícia que temos dele, datada de 1235, localiza-o, no entanto, no Alentejo, testemunhando um documento do infante D. Fernando de Serpa (irmão mais novo do rei D. Sancho II), plausivelmente como seu cavaleiro e vassalo1. É possível, pois, que João Soares tenha acompanhado o percurso do infante por esses anos, percurso que o leva primeiro a Roma, em 1238, onde vai implorar perdão ao Papa pelos variados atropelos por si e pelos seus homens cometidos contra os bispos de Lisboa e da Guarda, e que o leva em seguida a Castela, entre 1240 e 1243, como vassalo do rei D. Fernando III, seu primo direito. Segundo José Mattoso2, D. Fernando de Serpa terá chegado a integrar a hoste do infante herdeiro, D. Afonso (futuro Afonso X), o que fornece um contexto credível para as relações de proximidade que são visíveis entre João Soares Coelho e os trovadores e jograis que fazem parte, por essa época, do círculo do infante castelhano. Casou, de qualquer modo, por esses anos, com Maria Fernandes de Ordéns, dama galega de uma linhagem relativamente obscura.
Regressando o infante de Serpa a Portugal em 1243, não sabemos se João Soares o terá ou não acompanhado. São esses igualmente os anos do agravar do conflito que conduziu à guerra civil portuguesa, durante a qual, e enquanto foi vivo, o infante de Serpa tomou o partido do seu outro irmão, o Conde de Bolonha. Da posição de João Soares no conflito nada sabemos de concreto. Seja como for, a partir de 1249, João Soares aparece-nos na corte portuguesa do novo rei, Afonso III, onde passa a ter uma presença constante, recebendo mesmo em doação, em 1254, a vila de Souto de Riba Homem. A sua proximidade com o monarca comprova-se também pela ascensão social da sua família, nomeadamente pelo facto de o seu filho, Pero Coelho, ter sido mais tarde meirinho-mor de D. Dinis. É possível que tenha falecido pouco depois de 1279, data do último documento conhecido em que figura.
Acrescente-se, como pormenor curioso, que, segundo os Livros de Linhagens (LL 36CD), duas das suas filhas foram assassinadas pelos respetivos maridos por mao preço. Num registo diferente, note-se ainda que um dos seus netos, Estêvão Peres Coelho, foi igualmente trovador.


Referências

1 Mattoso, José (1985), "João Soares coelho e a gesta de Egas Moniz", in Portugal Medieval. Novas interpretações, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

2 Mattoso, José (2000), "A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular", in Naquele Tempo. Ensaios de História Medieval , Lisboa, Círculo de Leitores, p.330.

Ler todas as cantigas (por ordem dos cancioneiros)


Cantigas (por ordem alfabética):


Agora me foi mia madre melhor
Cantiga de Amigo

Ai Deus, a vó'lo digo:
Cantiga de Amigo

Ai madr,'o que eu quero bem
Cantiga de Amigo

Ai meu amigo, se [vós] vejades
Cantiga de Amigo

Amigas, por Nostro Senhor
Cantiga de Amigo

Amigo, pois me vos aqui
Cantiga de Amigo

Amigo, queixum'havedes
Cantiga de Amigo

As graves coitas, a quen'as Deus dar
Cantiga de Amor

Atal vej' eu aqui ama chamada
Cantiga de Amor

Bom casament'é, pera Dom Gramilho
Cantiga de Escárnio e maldizer

Com'hoj'eu vivo no mundo coitado!
Cantiga de Amor

Da mia senhor, que tam mal dia vi
Cantiga de Amor

Desmentido m'há 'qui um trobador
Cantiga de Amor

Deus, que mi hoj'aguisou de vos veer
Cantiga de Amor

Dizem que digo que vos quero bem
Cantiga de Amor

Dom Estêvam fez[o] sa partiçom
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Estêvam, que Lhi nom gradecedes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Vuitorom, o que vos a vós deu
Cantiga de Escárnio e maldizer

Em grave dia, senhor, que vos vi
Cantiga de Amor

Eu me coidei, u me Deus fez veer
Cantiga de Amor

Falei um dia, por me baralhar
Cantiga de Amigo

- Filha, direi-vos ũa rem
Cantiga de Amigo

Foi-s'o meu amigo daqui noutro dia
Cantiga de Amigo

Fremosas, a Deus louvado, com tam muito bem como hoj'hei
Cantiga de Amigo

Fui eu, madre, lavar meus cabelos
Cantiga de Amigo

Hoje quer'eu meu amigo veer
Cantiga de Amigo

Joam Fernández, o mund'é torvado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Joam Fernándiz, mentr'eu vosc'houver
Cantiga de Escárnio e maldizer

Joam Garcia tal se foi loar
Cantiga de Escárnio e maldizer

- Joam Soárez, comecei
Tenção

- Joam Soárez, de pram as melhores
Tenção

- Joam Soárez, nom poss'eu estar
Tenção

Jograr, mal desemparado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Luzia Sánchez, jazedes em gram falha
Cantiga de Escárnio e maldizer

Maria do Grave, grav'é de saber
Cantiga de Escárnio e maldizer

Martim Alvelo
Cantiga de Escárnio e maldizer

Meus amigos, que sabor haveria
Cantiga de Amor

Meus amigos, quero-vos eu mostrar
Cantiga de Amor

Nom me soub'eu dos meus olhos melhor
Cantiga de Amor

Noutro dia, quando m'eu espedi
Cantiga de Amor

Nunca coitas de tantas guisas vi
Cantiga de Amor

Ora nom sei no mundo que fazer
Cantiga de Amor

Pelos meus olhos houv'eu muito mal
Cantiga de Amor

Per bõa fé, mui fremosa sanhuda
Cantiga de Amigo

Pero m'eu hei amigos, nom hei ni um amigo
Cantiga de Amor

Por Deus, senhor, que vos tanto bem fez
Cantiga de Amor

- Quem ama Deus, Lourenç', am'a verdade
Tenção

Quem diz de Dom 'Stêvam que nom vê bem
Cantiga de Escárnio e maldizer

Senhor e lume destes olhos meus
Cantiga de Amor

Senhor, o gram mal e o gram pesar
Cantiga de Amor

Senhor, por Deus que vos fez parecer
Cantiga de Amor

Vedes, amigas, meu amigo vem
Cantiga de Amigo

- Vedes, Picandom, som maravilhado
Tenção