Airas Peres Vuitorom
Trovador medieval


Nacionalidade: Galega?

Notas biográficas:

Trovador cuja biografia apresenta ainda muitos traços obscuros. Tendo em conta as suas várias cantigas que têm como contexto a guerra civil portuguesa de 1245-1247, tem sido considerado um trovador português, eventualmente o Airas Peres, natural de Vitorino de Piães (Ponte de Lima), que surge nas Inquirições de 1258. Mas já Carolina Michaelis tinha admitido a sua origem galega, provavelmente como filho do arcediago de Lugo, Pero Aires Vuyt1. Resende de Oliveira2, tendo em conta que o apelido é desconhecido em Portugal, também pensa que será originário da Galiza, onde esse mesmo apelido está documentado para os meados do século XIII. Assim, um Pero Pais Vultoran, cavaleiro (que poderá ser seu pai) e um João Peres Vuitorom (que poderá ser seu irmão) aparecem, respetivamente em 1255 e 1262, em documentos da região entre Ourense e Santiago de Compostela, pelo que seria eventualmente essa a região de origem da linhagem. Mais recentemente (2018), Ron Fernández3 avançou uma hipótese alternativa, a de que o berço da família poderia ser a localidade de Buitorón, no atual concelho de Muxia (na chamada Finisterra galega), passagem obrigatória no caminho de peregrinação que levava de Compostela a Finisterra. De qualquer forma, e independentemente da região de origem, o facto de Airas Peres ser galego não seria, em princípio, impeditivo de um eventual percurso português posterior, como sabemos ter sido o caso de vários outros cavaleiros galegos da mesma época.
O que já é mais certo é ter Airas Peres acompanhado de perto o percurso de Afonso X, infante e rei (ou, pelo menos, os primeiros anos do seu reinado). Com ele esteve certamente em Portugal, na campanha militar de auxílio ao malogrado rei D. Sancho II que o infante herdeiro levou a cabo em 1246/47, como nos comprovam as referidas cantigas. Participou também na conquista de Sevilha, já que o seu nome aparece no repartimento desta cidade, como beneficiário de alguns bens. A partir desta data, e embora algumas outras composições o pareçam mostrar ainda ativo, nada mais sabemos de concreto sobre o seu percurso.


Referências

1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904).

2 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri.

3 Ron Fernández, Xavier (2018), "Martin Codax: o nome. A onomástica na lírica trobadoresca", in The Vindel Parchment and Martin Codax. The Golden Age of Medieval Galician Poetry, edited by Alexandre Rodríguez Guerra and Xosé Bieito Arias Freixedo, John Benjamins Publishing Company, p. 227.
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Cantigas (por ordem alfabética):


À lealdade da Bezerra, que pela Beira muit'anda,
Cantiga de Escárnio e maldizer

Correola, sodes adeantado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Bernaldo, por que nom entendedes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Estêvam diz que desamor
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Estêvam, tam de mal talam
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Fernando, vejo-vos andar ledo
Cantiga de Escárnio e maldizer

Dom Martim Galo est acostumado
Cantiga de Escárnio e maldizer

Fernam Díaz é aqui, como vistes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Já um s'achou com corpes, que fezerom
Cantiga de Escárnio e maldizer

Joam Nicolás soube guarecer
Cantiga de Escárnio e maldizer

Joam Soares, pero vós teedes
Cantiga de Escárnio e maldizer

Pois que Dom Gómez Cura querria
Cantiga de Escárnio e maldizer


Autoria duvidosa:


Dom Estêvam, eu eiri comi
Cantiga de Escárnio e maldizer